Fernando Martins Zaupa. Promotor de Justiça no Estado de Mato Grosso do Sul.Especialista em Direito Constitucional .

domingo, junho 19, 2011

Onde estão os vocacionados e idealistas?



Desde os primeiros relatos do desenvolvimento da República, tem-se informações acerca da existência de funcionários públicos que não trabalham direito, fazem o famoso ‘corpo mole’, não aparecem ou simplesmente terceirizam suas atividades, pagando parte do seu vencimento para que outro trabalhe em seu lugar...

Infelizmente, com a atual perda e deturpação de valores, somada a onda de cursinhos e concursos em andamentos, tem-se que, se era certo que havia um ‘perfil’ para esse ou aquele cargo, função, instituição ou poder, agora o que se vê são muitos candidatos sob o lema ‘topo o que aparecer’, o importante é ter o fixo!

E o que é mais triste, é que a boa parte dessas pessoas, já vocacionada ‘ao encosto’, tem aumentado de maneira significativa e, o que é pior, tem obtida aprovação e estar a tomar banco (ao menos deixa o paletó sobre ele) de diversas carreiras!

Há, inclusive, uma leva de descompromissados a assumir profissões antes tidas como destinadas a idealistas, responsáveis e transformadores!

O que se vê, atualmente, nessas profissões, antes idealizadas pela natureza gratificante de suas funções e possibilidade de ‘fazer sua parte’, é a conversinha fácil e típica do ‘sai ou não sai o aumento’, ‘tchau, vou resolver uns negócios’, ‘ele/a só vem na parte da tarde’, ‘ele/a foi em uma reunião e não sei se volta hoje’, ‘o mundo não vai acabar hoje, relaxa, deixa isso aí’, ‘está sim, só que deu uma saída mas anoto que o senhor ligou’, ‘com que ele/a está saindo’, etc.

Não que a natureza humana tenha mudado ou que não tenha sempre existidas as situações acima; contudo, a transformação da situação que antes era tido como exceção, ou, ao menos, ocasional frente a vontade de trabalho, é algo que está a chamar atenção pelo volume!

Os idealistas, os que se doam pelos ideais e poder de transformação das profissões, infelizmente estão cada vez mais raros nos quadros de trabalho, principalmente nos setores públicos de relevante importância à população.

Aí, quando há as comuns e constantes situações de dificuldade, inerentes à burocracia e carência estatal, onde antes a vontade do vocacionado ou idealista propiciava um contorno dessa adversidade e ele/ela ‘dava um jeito’ para que ao menos algo fosse feito, agora simplesmente ocasiona o ‘ah, sem condição não tenho como fazer isso’, ‘eu fiz o que dava’, ‘eu não vou me matar, meu salário continuará o mesmo no final do mês’, ‘não mudará nada mesmo’, ‘vai tomar muito tempo, entrega por Braz ali do setor B que ele dá conta’, etc.

E nessa toada, cada vez mais os idealistas e vocacionados vão sendo soterrados em trabalho, decorrente de acumulo gerado pela ‘legião de encostados’.

Alia-se a isso a percepção de que, quem não faz nada, não terá problemas com questionamentos (se não há trabalho, não há nada a ser questionado!), tampouco conflitos a lhe tomarem tempo em procedimentos administrativos ou mesmo processos (se não faz nada, sua conduta não incomodará ninguém ou interesse algum, não gerando ações contra você).

Assim, o idealista e vocacionado, cheio de trabalho e processos administrativos, não terá tempo para fazer ‘marketing pessoal’, não sairá ‘para ser visto e lembrado’; não poderá ‘estar a disposição’ de todos; não terá como freqüentar as diversas ‘panelinhas’ e grupos para obtenção de créditos para recolocações, remoções ou promoções; não estará sem o óbice da vedação de transferência em caso de existência de procedimento disciplinar, etc.

Aí, surge o cansaço, a pressão da família para estar mais presente, a pecha de Mané até mesmo pela secretária (que era acostumada com o antigo chefe, que não aparecia e aliviava o ponto e não ligava da saída no meio da tarde), o desgosto ao ver o encostado que você quebrava galho ser dar bem com promoções e você ficar na mesma, os sinais de saúde fragilidade e já não dando conta do ritmo, etc...
É...
...enquanto isso, milhares de concursandos, no país inteiro, aguardam os resultados das provas para ingresso na carreira...
...o que esperar?

Um comentário:

  1. Esta uma coluna que merece parada diária.
    Parabéns pelo arrojo, pela coragem, por sua postura cidadã e crítica.
    Abs,
    Filipa Saanan-rj

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