Fernando Martins Zaupa. Promotor de Justiça no Estado de Mato Grosso do Sul.Especialista em Direito Constitucional .

domingo, setembro 11, 2011

milhares de crianças são diariamente vítimas desses covardes, repugnantes e desprezíveis seres.

...e perdem o direito de serem inocentes!


Final de uma tarde de abril.
O pequeno E., com seus sete aninhos, caminha sozinho, voltando da escola, rumo a sua casa, quando surge um estranho de bicicleta.
O estranho puxa conversa, diz ‘oi, eu...’, e, antes mesmo de terminar a frase, pega o pequeno E. pelos braços, tampa-lhe a boca com a mão e o arrasta para uma construção abandonada.
Longe da rua, mediante socos e pedradas, o estranho passa a praticar atos sexuais com a indefesa criança.
Já prestes a ir embora, com a criança caída e atordoada, o estranho pega uma pedra e, já decidido matá-la, dá-lhe uma pedrada e, após acreditar tê-la matado, foge.
Tomado de uma centelha de força, o pequeno E. arrasta-se e, após cambalear, consegue alcançar o asfalto, onde é visto por uma mulher que o socorre.
A mulher, em meio ao espanto de ver aquela criança toda machucada e se esvaindo em sangue, observa um estranho todo sujo a seguir pela rua.
Ela presta atendimento ao infante, enquanto o estranho toma rumo ignorado, mostrando um coração tatuado em suas costas.
A criança é levada ao hospital e médicos constatam diversas lesões, entre as quais perda de alguns dentes, cortes profundos na cabeça e alguns ossos da costela e clavícula quebrados.
Após recuperação, a criança traça o retrato falado e policiais saem em investigação.
A genitora do infante, uma senhora simples, que trabalha todos os dias como diarista para o sustento dos três filhos deixados pelo pai alcoólatra, passa a suspeitar de um estranho, que morava no bairro e atualmente costuma passar por sua rua.
Ela, então, sem que o estranho perceba, tira algumas fotografias dele pelo celular.
Ao mostrar a foto ao pequeno E. e perguntar se o conhece, a criança desanda a chorar e a dizer ‘é o homem do mal’!
Levada a fotografia à Delegacia de Polícia, constata-se a impressionante semelhança com o retrato falado feito pela criança um dia após o crime!
Identificado o estranho, ele nega e diz que nunca esteve no local.
O inquérito policial se transforma em processo, e a senhora que atendeu o pequeno E. reconhece o estranho em audiência: ‘é ele sim, é ele que estava lá e fugiu’.
Ele, perante o juiz, novamente nega: ‘nunca cheguei nem perto desse local’.
Ontem, em meio ao plenário de julgamento do Tribunal do Júri, após ele negar novamente, pergunto se possui alguma tatuagem:
‘- sim, tenho um coração nas costas...’
Condenado em dezenove anos pela tentativa de homicídio e violência sexual, ele se vira para sua defensora e, mantendo a frieza que sempre apresentou durante o processo, exterioriza um ‘tá ok então, vamos aguardar o recurso, né?’.
E assim, nessa quinta, houve aplicação da lei estabelecida para casos como o narrado...
...permanecendo a tristeza de saber que, além das seqüelas psicológicas infligidas ao pequeno E., milhares de crianças são diariamente vítimas desses covardes, repugnantes e desprezíveis seres...
...e perdem o direito de serem inocentes!

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