Fernando Martins Zaupa. Promotor de Justiça no Estado de Mato Grosso do Sul.Especialista em Direito Constitucional .

domingo, agosto 28, 2011

A onda de falta de satisfação está em ordem diretamente proporcional à quantidade de insatisfações dos cidadãos.


Falta de satisfação...



Tão certo quanto o caráter efêmero e ao mesmo tempo intenso da existência humana, é que, na vida em sociedade, o mínimo que se espera, ante a já cediça dinamicidade dos atos e complexidade de suas consequências, é ao menos um pouco de satisfação, por ocasião de algum equívoco ou falha, seja qual for a sua causa.
No entanto, o que se está a perceber, nos mais variados meios e situações, é que boa parte das insatisfações, indignações, explosões de raiva e mesmo atitudes descomedidas, está na falta de uma simples explicação, pedido de desculpa e demonstração de ânimo para alterar o estado de omissão constatado.
A onda de falta de satisfação está em ordem diretamente proporcional à quantidade de insatisfações dos cidadãos.
Marca-se uma passagem e ocorre um atraso: ao invés de satisfação, enrola-se ou, simplesmente, omite-se.
Encomenda-se algo e nada de chegar. Passou o prazo? Você é que tem que ir atrás para saber o que ocorreu. Eles entrarem em contato para uma satisfação com você, que nada, não é mesmo!?
Combina-se com o prestador de serviço o horário e local e você lá, plantado, após cancelar outros compromissos, e nada do prestador, nada do serviço!
Aí você, como sempre, é que, por falta de uma simples ligação avisando que houve um imprevisto ou, vá lá, um sincero pedido de ‘mil desculpas, blá blá’, vai cobrar uma satisfação que deveria surgir espontaneamente. Tá demais!
Estabelece-se uma meta e data para finalização de uma obra, serviço ou trabalho e você, tendo se matado para fazer sua parte e cumprido a tal meta e data, vê que o outro/a ‘nem tchum’, nada!
E a satisfação? Nada também.
Você vai querer saber o que ocorreu e, após você ir atrás, já recebe a desculpa com o famoso início do ‘sabe o que é...’’
Vai pegar o carro que está na garagem de casa ou vaga no trabalho, e está lá, um veículo lhe bloqueando a passagem.
Você vê o ‘senhor volante’ conversando em um celular e, ao dar um aceno com a mão, em meio a um sorriso no rosto (por que ainda faço isso, meu Deus?!) para que ‘passe um pouco para o lado’,o Neandertal social fecha a cara e não lhe dá a mínima satisfação, nem que seja com um mísero aceno de ‘foi mal’.
Combina-se que ele/ela é que irá lhe telefonar até tal dia, para agendar algo e, passado o dia, você é que acaba por ligar.
Ao dizer que é ‘em razão de termos que agendar..’ surge um simples, ‘ok, vamos marcar para’... e a satisfação? Nada! Se você não ligasse... 
Alteram sua programação de televisão, internet, telefone, contato interplanetário, sei lá, sem lhe avisar e, após você constatar a mudança (muitas vezes na conta!), informam-lhe que ‘houve alterações’. Tá, isso eu sei, por isso mesmo liguei, mas... por que? Eu queria isso? Nenhuma satisfação!
E assim as acaloradas relações humanas se intensificam em indignações, ódios, raivas, descontentamentos...
Bastassem, muitas vezes, um sorriso honesto, uma reconhecimento de culpa, uma contraprestação compensatória, uma demonstração de ânimo volitivo para resolver o problema, enfim, UMA SATISFAÇÃO, e tenham certeza, boa parte dos entraves comuns da dinamicidade do dia a dia seriam bem mais fáceis de se aceitar, digerir e até mesmo relevar.
Enquanto isso não muda, continuarei a sair bem tarde, nos dias de audiências do juizado de pequenas causas!!!![1]

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