Fernando Martins Zaupa. Promotor de Justiça no Estado de Mato Grosso do Sul.Especialista em Direito Constitucional .

sábado, agosto 06, 2011

Não, caro leitor, não é alguma Associação de BoLeiros; mas, sim a Academia Brasileira de Letras!

O valor das Letras no Brasil




Já faz alguns dias e aguardava passar a dor no estômago que o soco da notícia me provocara: Ronaldinho Gaúcho (ele mesmo) fora homenageado e condecorado pela... ...FIFA? Não! ...CBF? Não!.. pela ABL!!!

Não, caro leitor, não é alguma Associação de BoLeiros; mas, sim a Academia Brasileira de Letras!


Já que em literatura costuma haver muitas entrelinhas, a postura da ABL pode ensejar a conotação que o leitor quiser...

Nesse país de analfabetos efetivos e funcionais; nessa terra que não reprova mais ninguém, sob pretextos ‘didáticos’, onde o fundo real é o preenchimento de estatísticas para atendimento de exigências internacionais; nessa nação de valorização de critérios falsamente sociais e democráticos em contraposição ao mérito e empenho; nessa vereda em que cargos e funções que deveriam ser preenchidos por estudiosos do assunto/área são exercidos por despreparados apadrinhados ou ‘do partido’; enfim, nessa terra brasilis, interpreto a conduta da Academia Brasileira de Letras como a espelhar que esse país, além de imaturo, caminha na contramão da valorização da Educação, em sua acepção mais ampla!

Nada contra o jogador, o qual, mesmo em sua ‘área de atuação’, gera divergências entre as opiniões.

Contudo, em um país onde a história mostra árdua luta para implementação ‘das Letras’ em sua população, com diversos homens e mulheres, conhecidos ou anônimos, a batalhar bravamente em seus ideais nada obstante as dificuldades, mazelas e descaso de governantes, a toda evidência que ‘pegou mal’ homenagear outro que não um desses heróis da educação e cultura das letras!

Valendo-se do que acho que deverá ser o novo vocabulário da ABL, colocaram ‘para escanteio’ milhares de profissionais (escritores, jornalistas, educadores, etc) e ‘encheram a bola’ de quem já possui sua legião de bajuladores...

Assim, se a ABL está a se prestar a essa forma de valorizar as Letras, peço licença aos fardões para homenagear a todos os estudiosos e/ou amantes das palavras, nesse país em que livros são menos acessíveis que bolas.

Lembro-se, ainda criança, entre jornais lidos por meu pai e livros empilhados na estante, chegar tarde da noite minha mãe, após ter saído cedo de casa, para sua jornada de aulas na rede pública de educação na grande São Paulo.
Em casa, extenuada, partia para outra jornada no cuidado da família e, em seguida, debruçava-se sobre a mesa da cozinha, junto a provas e trabalhos de alunos.

Na manhã seguinte, saía novamente com seu guarda-pó e caixinha de madeira, com apagador e giz.

Recordo-me dos comentários acerca das dificuldades do tempo em que, antes de lecionar ‘na cidade’, lutava contra as precárias estradas ‘de chão’, falta de mesas e carteiras e cansaço dos alunos que trabalhavam na zona rural.

Como esquecer dos dias em que, na falta de ‘com quem deixar’, lá estava eu, levado ao seu sacerdócio, entrando em escolas públicas que mais lembravam presídios ante tantas grades e histórico de violências.
Vem-me imagens dos rostos de alguns educadores, nas salas de professores, quando mencionavam casos de sucesso e episódios de desolação em suas missões.

O cheiro do álcool do mimeógrafo (se não sabe, caro leitor, ponha no Google imagens...pois é!) surge em sinestesia... e as greves por melhores salários parecem ser o elo perdido entre aquela e esta época.

Hoje, após tantos anos dedicados ao ensino de milhares de alunos por toda a vida, qual a homenagem prestada pelos órgãos ditos ‘de letras’ ou mesmo ‘de educação’ a essa guerreira da educação?

O governo? Esse não reajusta a aposentadoria há anos... mas está aí, promovendo loteria de “Time Mania” para socorrer empresas esportivas e a subsidiar construção de estádios...

Mas sua devoção e idealismo, tenho certeza, possibilitou o conhecimento das letras a muitos que, pelo ensino, obtiveram a mudança que tais palavras proporcionaram em suas vidas...

Ao menos a agradeço eternamente, em minhas memórias, meus atos e, hoje, atuando, por meio das palavras, contra os que tentam aviltar a vida das pessoas de bem!


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