Os donos do poder e suas verdades
É impressionante como a censura costuma seduzir algumas pessoas, principalmente quando tomadas de algum poder ou posição de percussão.
Chega a ser deprimente observar, por exemplo, tentativas contínuas de se conspurcar o direito à informação, à liberdade de pensamento e opinião e até mesmo a criatividade e exteriorização de idéias.
A evolução da própria espécie humana demanda tese e antítese ou, em outras palavras, diversidade de pensamento e ações.
Fossem impostas somente as ‘versões’ e ‘posicionamento’ dos detentores do poder, haveria somente caminhos únicos, certamente a atravancar a evolução humana... ou, no mínimo, a tornar nossa existência chata demais!
Já fiz diversas postagens acerca das diversas formas de censura e violações de normas constitucionais e ordinárias (CF, art. 5º, IX: “é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença” e art. 220 “A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição”); mas, chega a ser anacrônico como os ‘donos da verdade’ se valem das estruturas de poder (e de suas vulnerabilidade e mazelas) para imporem ‘suas verdades’.
É cediço que o jornal O Estado de São Paulo está há tempos sob censura, em razão de determinação judicial, com impedimento de matéria jornalística sobre possíveis condutas ilícitas da família Sarney.
Essa é uma das centenas de censuras de natureza político que estão a ocorrer neste exato momento no país (basta googlar a palavra ‘censura’ para ver o caos arbitrário que estamos a viver!)
No entanto, parece que o espírito de impor vontades está a avançar em diversos terrenos e, o que é mais interessante, justamente após assunção de governos que se diziam defensores de liberdades...
Devem lembrar quando o ex-presidente de origem sindical (quer palco em que mais se invoca respeito a diversidade ou mesmo dissonância de idéias!) simplesmente determinou a expulsão do repórter Larry Rohter, do New York Times (link) e tentou de todas as formas vedar suas ‘impressões’ acerca da personalidade do líder da nação.
Nessa esteira, se o líder pode, passaram a ocorrer diversas tentativas de censuras por membros do chamado segundo, terceiro e demais escalões...
Ministros passaram, sempre sob vestes de algum discurso ideológico para militante ver, a censurar obras didáticas clássicas (sobrou até para Monteiro Lobato), manifestações públicas e até mesmo entrada de cidadãos no Congresso Nacional!
A recente pérola da sedução está com a Ministra Iriny Lopes (ou Secretária? Virou bagunça...) da Secretaria de Políticas para Mulheres, com sua manifestação contra a propaganda da modelo Gisele Bündshen, lançando a ideológica argumentação de que fere a imagem da mulher brasileira... (veja oficio da Ministra: link)
Ora, onde estava a Ministra quando a mesma Gisele aparecia esfregando um chão e sendo destratada pelo marido que ficava a ver seus ‘canais iterativos’ na SkY?
Ah, não tinha conotação de ofensa a imagem da mulher por não ter cunho sedutor e não falar para a brasileira ‘usar seu charme’?
Sei não, essa estória está mais para inv.. deixa pra lá!
Aliás, aqui entre nós, ao invés de dizer que a propaganda ofende a mulher por colocá-la como ‘mero objeto de sedução’ como apregoam, na verdade pode ser visto como forma a demonstrar que o homem (o macho, para não acharem que é o termo genérico para ser humano!) é que é um objeto, já que a um ‘toque de charme’ e sensualidade cede ao que a mulher pedir e fica sem qualquer racionalidade diante da sedução...em outras palavras, homem é besta mesmo!
Prefiro essa versão...
E aí, que Ministério vai defender o idiot... ops..o vulnerável macho?
No vácuo surge a declaração da secretária Aparecida Gonçalves, sob alegação de que “sou baixa, gorda e índia e não me vejo na propaganda” (link2).
Ah tá... eu não me vejo nas propaganda do Brad Pitt e George Clooney e nem por isso fico choran..ops.. manifestando-me oficialmente contra!
Agora é assim: ao invés de batalhar para melhorar a educação e consciência da população, para que possa ter valorizada sua capacidade de autodeterminação e incremento de qualidade às suas escolhas, prefere-se o caminho ditatorial e, se não concorda, manda tirar!
Se não convém, manda cortar!
Se não agrada, manda parar!
Será que essa postura ditatorial de avocar a ‘verdade’ exteriorizada pela Ministra é a que ‘retrata a imagem da mulher brasileira’?
Será que a Deputada Eliane Roriz, absolvida pela maioria governista (da ministra!) ‘retrata a imagem da mulher brasileira’?
Será que a Ministra Ideli Salvati, pedindo a volta da CPMF, ‘retrata a imagem da mulher brasileira’?
E há pouco, fazendo esse texto, eis que vejo a notícia de que a Ministra Iriny Lopes pediu formalmente para que a TV Globo inclua punição de agressor em uma novela (matéria da Veja: link3)
O que é isso senão censura, controle governamental e intervenção ditatorial?
A questão de bom ou mal gosto sempre irá existir e, para o bem de todos, deve ser tratado como escolha e alvo de debates e campanhas, jamais censura!
A história mundial e mesmo nacional aponta as nefastas conseqüências – inclusive com mortes – de posturas cerceadoras da liberdade de pensamento...
Adolf Hitler mandou queimar em praças públicas diversas obras (link4) que o Reich considerava impróprio ou proibido...
...e tudo começou porque ele era ‘dono do poder’...
...e tais livros não possuíam ‘sua verdade’...
Eis os perigos da censura, ainda mais tomada por argumentos ideológicos!
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