Onde estão os vocacionados e idealistas?
Desde os primeiros relatos do desenvolvimento da República, tem-se informações acerca da existência de funcionários públicos que não trabalham direito, fazem o famoso ‘corpo mole’, não aparecem ou simplesmente terceirizam suas atividades, pagando parte do seu vencimento para que outro trabalhe em seu lugar...
Infelizmente, com a atual perda e deturpação de valores, somada a onda de cursinhos e concursos em andamentos, tem-se que, se era certo que havia um ‘perfil’ para esse ou aquele cargo, função, instituição ou poder, agora o que se vê são muitos candidatos sob o lema ‘topo o que aparecer’, o importante é ter o fixo!
E o que é mais triste, é que a boa parte dessas pessoas, já vocacionada ‘ao encosto’, tem aumentado de maneira significativa e, o que é pior, tem obtida aprovação e estar a tomar banco (ao menos deixa o paletó sobre ele) de diversas carreiras!
Há, inclusive, uma leva de descompromissados a assumir profissões antes tidas como destinadas a idealistas, responsáveis e transformadores!
O que se vê, atualmente, nessas profissões, antes idealizadas pela natureza gratificante de suas funções e possibilidade de ‘fazer sua parte’, é a conversinha fácil e típica do ‘sai ou não sai o aumento’, ‘tchau, vou resolver uns negócios’, ‘ele/a só vem na parte da tarde’, ‘ele/a foi em uma reunião e não sei se volta hoje’, ‘o mundo não vai acabar hoje, relaxa, deixa isso aí’, ‘está sim, só que deu uma saída mas anoto que o senhor ligou’, ‘com que ele/a está saindo’, etc.
Não que a natureza humana tenha mudado ou que não tenha sempre existidas as situações acima; contudo, a transformação da situação que antes era tido como exceção, ou, ao menos, ocasional frente a vontade de trabalho, é algo que está a chamar atenção pelo volume!
Os idealistas, os que se doam pelos ideais e poder de transformação das profissões, infelizmente estão cada vez mais raros nos quadros de trabalho, principalmente nos setores públicos de relevante importância à população.
Aí, quando há as comuns e constantes situações de dificuldade, inerentes à burocracia e carência estatal, onde antes a vontade do vocacionado ou idealista propiciava um contorno dessa adversidade e ele/ela ‘dava um jeito’ para que ao menos algo fosse feito, agora simplesmente ocasiona o ‘ah, sem condição não tenho como fazer isso’, ‘eu fiz o que dava’, ‘eu não vou me matar, meu salário continuará o mesmo no final do mês’, ‘não mudará nada mesmo’, ‘vai tomar muito tempo, entrega por Braz ali do setor B que ele dá conta’, etc.
E nessa toada, cada vez mais os idealistas e vocacionados vão sendo soterrados em trabalho, decorrente de acumulo gerado pela ‘legião de encostados’.
Alia-se a isso a percepção de que, quem não faz nada, não terá problemas com questionamentos (se não há trabalho, não há nada a ser questionado!), tampouco conflitos a lhe tomarem tempo em procedimentos administrativos ou mesmo processos (se não faz nada, sua conduta não incomodará ninguém ou interesse algum, não gerando ações contra você).
Assim, o idealista e vocacionado, cheio de trabalho e processos administrativos, não terá tempo para fazer ‘marketing pessoal’, não sairá ‘para ser visto e lembrado’; não poderá ‘estar a disposição’ de todos; não terá como freqüentar as diversas ‘panelinhas’ e grupos para obtenção de créditos para recolocações, remoções ou promoções; não estará sem o óbice da vedação de transferência em caso de existência de procedimento disciplinar, etc.
Aí, surge o cansaço, a pressão da família para estar mais presente, a pecha de Mané até mesmo pela secretária (que era acostumada com o antigo chefe, que não aparecia e aliviava o ponto e não ligava da saída no meio da tarde), o desgosto ao ver o encostado que você quebrava galho ser dar bem com promoções e você ficar na mesma, os sinais de saúde fragilidade e já não dando conta do ritmo, etc...
É...
...enquanto isso, milhares de concursandos, no país inteiro, aguardam os resultados das provas para ingresso na carreira...
...o que esperar?
Esta uma coluna que merece parada diária.
ResponderExcluirParabéns pelo arrojo, pela coragem, por sua postura cidadã e crítica.
Abs,
Filipa Saanan-rj